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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

74)-A Carta (Poema)


As horas cirandam devagar
distraindo o relógio com cânticos
tão desafinados que fazem retardar
o pouso da tua carta que espero a anos.  

Aguardo pelo teu sim ou pelo teu não 
repousados na suavidade da folha 
que descansará em minhas mãos
me contanto sobre as tuas escolhas.
                                 
Com as letras montarei mosaicos 
que me farão recordar dos tempos
que converteram o nosso passado,
em lágrimas que regaram meu rebento.
.
Hei de guardar todos os pontos
e apagarei as vírgulas que nos separam.
Das tuas expressões farei meus contos
que narrem fantasias que nos atraiam.  

[Fernando de Souza Júnior]
18 de Dezembro de 2012

73)-Desconhecidos (Poema)



Desconhecidos, perdidos
num labirinto de olhares fixos,
reservam os cumprimentos
e seguem rumos distintos...

Pensamentos passeantes
guiam os desejos ao reencontro
que pulsam forte nos corações
desencontrados no caminho.

Desconhecidos, perdidos
num labirinto de desejos
cujos toques façanhosos
os fazem instantes íntimos.

De longe ouve-se um “oi”
que soa mudo dos lábios
da desconhecida que, tímida,
se despede com carinho.  

[Fernando de Souza Júnior]
17 de Dezembro de 2012

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

72)-Poesia Apaixonada (Poema)



Chove lá fora,
e eu aqui dentro,
sonho apaixonada
com você e migo.

Mesmo sozinha
estou contigo,
te encontro
todos os dias,

conversamos,
sinto a maciez
dos teus lábios
no meu rosto.

Mas no rosto
parece pouco,
mas é tanto pra mim
que vivo você.

Chove lá fora,
e eu aqui dentro,
sozinha, escrevo
Poesias apaixonadas.

[Fernando de Souza Júnior]
24 de Outubro de 2012 

71)-Sobre Poesia (Poema)


Todo Poema parece igual,
as vezes trazem palavras
que parecem iguais, mas
desiguais é o que são.

Poema é que nem palavras:
podem até se repetir,
mas são outros os sentidos,
em contextos bem distintos;

com outros personagens,
com outras intenções,
com outras essências,
com outras rimas
                  [que desritmizam corações].

Posso escrever sobre 
Poemas na Poesia, 
fazê-la portal para mundos 
imensos ou pequenos,
                        [desconhecidos].

Mesmo que um mundo
não possa ser Poesia,
a Poesia se torna grande,
pois ela pode ser mundos
                                [e desmundos].

[Fernando de Souza Júnior]
25 de Outubro de 2012  

70)-O Exílio (Poema)



Sentimentos covardes
que faz do silêncio refúgio,
que me faz prisioneiro do lúdico
me alimentando de um falso você.

Consciente, te espero em verdade.
O exílio não me impede de sentir
os ventos que te assopra em liberdade
rumando-te  em direção a mim.  

Sei que repousarás em meu peito
me permitindo amar em tua companhia
eternizando instantes perfeitos
me transportando da tristeza à alegria. 

[Fernando de Souza Júnior]
28 de Outubro de 2012 

69)-Momento (Poema)


Farsa. Percebi que era tudo uma farsa.
De longe pude senti-la fria, o olhar centrado
guardava algumas palavras duras e gélidas,
não era o momento para estragar o momento.

Ingênuo. Como pôde ser ingênuo?
Emocionado ele guardara no peito
o desejo de tê-la ao seu lado, oras,
desejo que virou flores e depois momento.

Fria! Aceitou as flores, que sem vida,
repousara em seu colo. Sorriu. Agradeceu.
Reservou o seu desapreço pelo Amor genuíno
e ingênuo que logo se tornaria momento.

Ele se tornou prisioneiro do silêncio.  
Coitado, sonhara com momentos eternos...  
E ela, ainda fria, deu-o um ligeiro abraço  
lançando-o na esperança do momento.   

[Fernando de Souza Júnior]
 29 de Outubro de 2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

68)-O Amor dos Idiotas (Poema)


Quem acredita no Amor é Idiota!
O Amor pertence só ao Diabo... 
Os Idiotas se esquecem que o Diabo
também ama em sua doce mentira. 

Verdade, os Diabos são fingidos,
sádicos e genuinamente maus.
Sabem bem como fazer dum Idiota
um vilão, um criminoso serial...

Os Idiotas também amam...
Mas o mal dos idiotas é o pecado 
de amar o Diabo, porque é do Diabo 
o Amor dos Idiotas! Coitados.

Pois o depoimento do Diabo
sentencia um Idiota, difama-o, 
crucifica-o em rede nacional.
Idiota, como pôde ter amado?! 

Culpado! 

[Fernando de Souza Júnior]
12 de Outubro de 2012 

67)-Pode ser Poesia (Poema)


O nosso encontro pode ser Poesia,
mesmo que sejam versos imperfeitos
ou palavras passeantes é importante 
que as Poesias te traga à mim. 

O nosso desencontro pode ser Poesia
que se inspira num simples fim,
num aperto de mãos, um tchau basta
para que nos transformemos em versos. 

O que sentimos pode ser Poesia
porque o que sentimos é secreto,
protegemos os nossos íntimos
por causa do Amor que nos interessa. 

O que lemos pode ser Poesia,
a frase que nos aproxima
é a prosa que soa baixinho
de forma inconsciente dos lábios teus. 

O que escrevo pode ser Poesia,
porque são palavras eternas
repletas de saudades que transformo 
em ausências que podem ser Poesias.

[Fernando de Souza Júnior]
12 de Outubro de 2012 

66)-O Beijo Amigo (Poema)



O pior beijo é o beijo amigo.
Engana-me de forma tal
que por alguns instantes
me faz pensar que sou amado. 

Errado! Somos apenas amigos,
não amados. Somos instantes,
não amantes. Somos lembranças, 
sem transa. Amigos não transam... 

Ser "o amigo" é viver em fantasia.
Chato é receber um beijo amigo,
malditos abraços sem intensões,
malditos beijos sem malícia...

O pior beijo é o beijo amigo.
Engana-me de forma tal
que por alguns instantes
me faz pensar que finalmente...
                             [seremos mais do que amigos].

[Fernando de Souza Júnior]
11 de Outubro de 2012. 

65)-Jardins Ressentidos (Poema)


Em jardins ressentidos 
a graça perde o riso,
o riso perde a razão 
e a razão perde o sentido.

Mesmo que hajam tantas flores 
e tantas cores nestes jardins 
as borboletas já não voam mais
pelos jardins ressentidos do Poeta.
                                                  
Sei que os jardins sentem.
Aliás, são jardins de gente, 
que um dia se deslumbrou
com os voos das borboletas. 

Te espero sem sentir o tempo
que passa e me envelhece.
Ouço-te cantando nos palcos
da memória no ritmo dos ventos. 

P.S.: "Entristeci-me quando percebi que foi tudo fantasia..." 

[Fernando de Souza Júnior]
10 de Outubro de 2012.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

64)-Caetano canta baixinho... (Crônica)



Depois de tanto escrever, me arrependi e arranquei furiosa algumas das páginas desse diário porque tudo o que eu havia escrito sobre mim estava errado. Eu mesma não me conheço. Estúpida! Narrei parte da minha vida de maneira confusa, li e reli todas aquelas palavras que se equilibravam nas linhas para fazer desta minha vidinha um espetáculo decente, algo que enchesse e impressionasse os olhos do honorável público. Impossível... não há como ser interessante quando se vive parada no tempo, tudo parece tão desconexo. Já não faço mais sentido – ou faço, mas o que eu ainda não entendi é que o meu sentido é outro. Que outro?! Tudo errado... Agora entendo porque é tão difícil acreditar nas lembranças, elas variam a todo instante!
Mayara F., esse é o meu nome. Tenho vinte e um anos e o meu lugar favorito ainda continua sendo aqui, o meu quarto - aqui eu escondo as minhas intimidades. Aliás, aqui é o meu mundo. Nossa, já é madrugada, o relógio acelera o tempo, pra mim tanto faz, todos os dias é um hoje qualquer. Agora me dedico a escrever. Escrevo cuidadosamente essas frases para que estas de maneira alguma herdem a estupidez que fiz questão de amassar e jogar no lixo. Penso... Penso em mim mesma, a luz branca do abajur ilumina a folha de papel que aos poucos se preenche de mim, a minha face é oculta, além de eu não mais me reconhecer esqueci-me de como é o meu rosto – não me olho no espelho já fazem cinco anos... Mas isso não interessa, eu acho.
O rádio está ligado, num volume baixinho Caetano canta lindamente a melodia que me faz sonhar: “Que vontade que eu sinto/De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços/É verdade, eu não minto...” Essa música sempre toca, parece que é exclusivamente pra mim. As músicas são compostas para serem nossas e “Você não me ensinou a te esquecer” foi escrita para ser minha. Toca baixinho enquanto escrevo e imagino...  Sabe, sempre quis viver um romance. Creio que isso já não mais existe. Ou existe? Você, leitor que vive aí fora responda-me: Ainda existem romances? Oras... maldita hora que me perdi neste vazio, que me atirei no abismo da solidão por causa nenhuma. Não existe depressão em mim, nada existe aqui. Ou existe? Você, leitor que vive aí fora responda-me: Além da canção existe alguma coisa em mim?
Tenho a sensação de que aqui está ficando tão pequeno... Mal cabe a minha cama, minha escrivaninha, meu criado mudo e os meus sonhos! Sim, sonhos, eu também tenho os meus. Enquanto a música toca, eu escrevo e faço planos para o meu casamento. Sou apaixonada por um “alguém” que na verdade nem conheço, mas já o tenho como marido. Deus deve estar cuidando dele pra mim... Então eu escrevo essas palavras à ele: “Quero que venha me encontrar, quero que me conheça... saiba que aqui estou a espera de ti (risos)”.
Querido diário; não tenho mais forças para continuar, ou seja, por hoje chega! Enquanto imagino um fim louvável para as minhas fantasias Caetano canta baixinho: “já cheguei a tal ponto/de me trocar diversas vezes por você/só pra ver se te encontro...”

Primavera de 2012.  
  

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

63)-Ruínas (Poema)



Caminho entre as tuas ruínas poéticas,
dói-me ao ver o verso a mim dedicado
perdido em meio aos destroços, choro
e sinto-me culpada por esta desgraça! 

Creio que decepcionei-te, e sei que fui
o que você jamais queria que eu fosse
sou o que falaram de mim, a perversa.
Fui eu quem destruiu teus sentimentos,

sei disso! Perdi-te para ser isto, mexericos,
mas nunca fui o "alguém" que você imaginou
sou isso, aquilo que não querias é o que sou.
Lamento por destruir o teu edifício de ilusões.

Deixaste por ora dói, mas tem que ser assim;
tem que ser despedida, sei que não querias,
foi cruel ser aquela que pra você não existia,
culpa minha, só espero que um dia entendas.

Adeus...  

[Fernando de S. Júnior]
24 de Setembro de 2012

sábado, 22 de setembro de 2012

62)-Não Partas (Poema)



Não quero que partas, fique!
Faça destas Poesias tua morada,
a canção favorita que te faz sonhar
e tua companhia nas noites frias.  

Você compôs todas as madrugadas onde vaguei 
solitário em busca de palavras que me trouxessem 
alegriamesmo que passageira, mas alegria...
O teu olhar de despedida era tudo o que eu não queria. 

Em ti cultivei as melhores inspirações  
onde tu plantastes em terras férteis  
sementes de imaginações onde colho
em meus pomares todos os seus beijos

que deixa na minha boca o gosto da Poesia.
Colho  também o teu perfume que deixa 
na minha pele a essência da Prosa romântica.
Colho os teus sorriso que te eterniza como minha.

Tu queres partir, despeça-se de mim e vá...
Mas saiba que viverei em tuas lembranças 
mesmo que tu voe para bem distante, cá estarei,
para fazer do teu regresso o meu horizonte.

[Fernando de Souza Júnior]
22 de Setembro de 2012

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

61)-Mundo, apenas mundo... (Poema)




Mundo absurdo, meu mundo...
tão vazio e tão cheio de tudo.
Mas é o meu mundo confuso,
poético, mentiroso e lúdico.

Mundo desventurado, perturbado
que faz de mim um ser aprisionado
no tempo, nos sonhos e no trabalho
me matando sem que eu seja amado. 

Mundo tão patético, tão novo,
tão meu que chega ser oco,
frágil, louco, inseguro e chato,
tão “eu” que faz do “outro” abstrato.

Mundo de lembranças, pequeno.
Apenas um mundo de imaginações
com quatro paredes e tantos retratos,
tão cheio tantos, tão cheio de “antes”...

[Fernando de S. Júnior]
19 de Setembro de 2012

terça-feira, 4 de setembro de 2012

60)-Amor em palavras... (Poema)



Foram palavras de Amor,
sobre o Amor, mas sem Amor.
Estava tudo lá, nas palavras.
Droga! O que o Amor fazia lá?

Não sei. Estavam lá,
todos os Amores...
Quem eu quero enganar?
A mim? Talvez seja a mim...

Fui tão (in)capaz de senti-lo,
de vivê-lo, que ele, o tal Amor,
voltou-se contra mim.
Seria o Amor? Por que Amor?!

Os sonetos não cansarão
de fazer deste ‘tal Amor’
nossas fantasias íntimas
que sempre será sua e minha.  

Oras, Amor... 

[Fernando de S. Júnior]
04 de Setembro de 2012

domingo, 26 de agosto de 2012

59)-A Mão... (Poema)



Delicada, tão delicada...
Tão capaz de inventar o riso,
de prender os sonhos entre os dedos
e desenhar a paixão em tua palma.

Delicada, tão delicada...
Tão capaz de secar as lágrimas,
de retocar o borrão da maquiagem
e reinventar a tristeza na tela.

Delicada, tão delicada...
Tão capaz de se fazer rascunho,
de guardar o meu número
que se esvai em teu suor.

Delicada, tão delicada...
Tão capaz de ser ingênua
em meio a tantos dilemas
ao ponto de inspirar poemas.
                                   
[Fernando de S. Júnior]
26 de Agosto de 2012

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

58)-Poesia de Regresso (Poema)



Já faz algum tempo
que nada escrevo a ti,
mas essa ausência
não te matou em mim.

Com as letras desenho
as curvas do teu rosto,
contorno o teu sorriso
que te guarda em segredo.

Faço-te passear nas linhas
do meu rascunho... Vive-te!
Porque te quero feliz, correndo
nos jardins da minha imaginação.

Eu, mesmo exilado, não
deixei de lapidar esta poesia
que nos aproxima, te faz minha
e dá-me o teu abraço macio.   

À você dedico esses versos
que regressa o nosso Amor
tímido que viajava pelo silêncio
dos nossos corações contidos.

[Fernando de S. Júnior]
23 de Agosto de 2012 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

57)-Inverno (Poema)



É neste inverno de Julho
que eu declamo a ti estes versos.
Sei que eu sou apenas um poeta
patético, ficcionista e medroso,

mas foi numa das noites frias
deste inverno do mês de Julho
que acendi um cigarro, dei o primeiro trago
e na primeira baforada vi-te dançando pelo ar.

Poeta? Sim... Poeta preso nos versos
que tem-te somente nas rimas
e te sente na distancia da prosa.
Sou um poeta preso no inverno,

poeta reverso, solitário, amargo,
poeta que vos vê se esvaindo pelo ar,
que te sente distante
e que se fere com o teu silêncio frio.

É noite, extasiado admiro você dançando
nos ares deste quarto escuro que aos poucos
te faz desaparecer deixando cá  a fantasia
deste poeta sendo escrita neste verso
                                                  (do mês de Julho).

[Fernando de Souza Júnior]
13 de Julho de 2012


56)-Te espero (Poema)



Imagino ter você em minhas histórias,
mas lhe vejo relutar contra as minhas linhas,
queres ser a vida real, sentida e não ficção
pois deixe que eu me faça prisioneiro da desdita.

Farei desta minha inspiração
e solitário poetizarei o sonho
de estar contigo e na textura do papel
desenharei as formas do teu nome.

Lamento que não esteja comigo
e invejo esse mundo insano
que te carrega nos braços
e te faz preferir as inverdades.
                                          (Maldita!)

Custa-te saber que sou eu
a tua verdade e que é o encontro
de nós dois que dá vida aos versos?
Saiba que és a minha fantasia e aqui te espero.
                                                                             
[Fernando de Souza Júnior]
13 de Julho de 2012.


                                     

55)-Eu, Palavras... (Poema)


Quem sou? Não sei.
Talvez eu seja uma palavra,
duas ou três, não sei...
Será que sou verso ou reverso?

Não sei quem eu sou...
Poeta? Não... Escrevinhador talvez
ou um mentiroso que é só palavras.
Mas espere aí, essas palavras sou eu!

Eu sou palavra inventada,
história contada feita de palavras
que pode ser tudo e também pode ser nada,
pode ser simplesmente eu, você ou nós dois
                                                       (contado em palavras).


[Fernando de Souza Júnior]
13 de Julho de 2012

segunda-feira, 9 de julho de 2012

54)-Não te basta? (Poema)



Você que dá ritmo à vida,
que faz da verdade melodia,
que faz soar da tua boca a beleza,
você... Por que mora nos pensamentos
                                                       (que são meus?)

Não te bastam os dias
que são lembranças minhas?
Não te bastam as ruas
que são palcos da tua dança?

Rires despreocupadamente da vida
porque é inocente, porque és livre, é você...
Que sonha ao som da música que te faz dançar
para a felicidade dos olhos meus.

Livre, é assim que você se sente
quando dança pelas ruas,
quando é aplaudida pelos corações
e quando foge com o teu melhor amigo,
                                                         (o sonho).

[Fernando de Souza Júnior]
9 de Julho de 2012

segunda-feira, 2 de julho de 2012

53)-Final: Um gole de Estricnina (Crônica)



A minha cama estava mais macia naquele dia. Mesmo assim me levantei, ainda era muito cedo, abri devagar a porta do meu quarto e caminhei pelo corredor, a casa estava em silêncio, todos estavam dormindo, me dirigi à cozinha para tomar um copo d’água – detesto beber água, mas naquele dia eu resolvi tomar um pouco. Meu coração batia forte, eu estava com muito medo. Puxei uma cadeira, sentei e por um longo período fiquei pensando na viagem que eu faria. Egoísta! Julguei-me assim. Partir e deixar quem me ama, sacrificar-se por um alguém, por quê? Eu a amava e ainda a amo... Mas e os outros? Na nossa história não tinha outros. Era somente eu e ela.
Chovia muito naquele dia. As gotas batiam com força na janela da cozinha, levantei da cadeira, dirigi-me até a janela e dali mesmo eu fiquei observando as plantas saciando a sua sede com toda aquela água que caia do céu enquanto me alimentava de agonia. Ainda pensativa voltei para o meu quarto, tranquei a porta e sentei-me diante do espelho, me admirava pela última vez. Naquele dia eu acordei mais bonita. Minha pele estava mais rosada, enquanto eu me reparava ia escovando os cabelos, depois limpei os meus olhos com algodão, minha boca exigia um batom vermelho rosado – nunca fui muito vaidosa, mas aquele seria o último momento que eu estaria acompanhada dos meus “eus”. Depois... Bem, depois eu não saberia se eles ainda iriam querer continuar comigo. Foi engraçado imaginar-me separada dos meus “eus”.
Fechei os meus olhos e em meio a um silêncio mórbido eu me perguntava; "Como seria se nós tivéssemos percorrido todas as estradas tortuosas?" "Como seria se nós tivéssemos ficado cegas por conta das luzes que nos levam até essas estradas?" Em meio a estes conflitos eu apanhei a única coisa capaz de me trazer "o mundo perfeito", os meus fones de ouvido e o meu iphone, neles surgiam as canções que me diziam que eu era apenas eu, não tão boa, mas alguém que seria capaz de dedicar os mais sinceros sentimentos. Eu estava encostada na cabeceira da cama ouvindo a voz de Noel Gallagher cantando Wonderwall só para mim, eu não parava de pensar na Luana, não parava de pensar na minha partida, não parava de pensar o que iriam dizer de mim por aí, não parava de pensar que ninguém havia sentido o mesmo que eu senti pela minha amada naquela vida, ainda havia muitas coisas que eu queria dizer à minha Princesa, mas eu não sabia como... Depois que eu descobri o Amor na boca de Luana eu o tive como protetor, acreditei que ele viria me salvar e no final de tudo...    
Tirei os fones de ouvido, sentei diante da escrivaninha, retirei da gaveta uma folha de papel e uma caneta e escrevi uma carta à Luana expressando os meus últimos sentimentos, aquilo que eu deveria ter dito a ela, mas não sabia como. Deixei as minhas escritas sobre a mesa, os meus dois CDs das minhas bandas favoritas; Oasis e Nirvana e a caneta que havia transformado em palavras as últimas batidas do meu coração. Voltei pra cama, passei levemente as mãos sobre ela e a senti mais macia, me deitei novamente, fixei os olhos no teto, ainda estava chovendo muito, ouvi as gotas baterem na janela e o fone de ouvido soando alguma canção do Gallagher, que agora cantava só, naquele instante eu não estava envolvida em suas letras apenas imaginava a minha paixão perto de mim, tudo parecia tão real...
Ainda deitada levei preguiçosamente a mão até a gaveta da minha escrivaninha tirei um frasco de perfume que dentro havia um líquido a base de estricnina. Eu havia preparado tempos antes, coloquei-o no frasco de perfume para que ninguém viesse desconfiar da decisão que eu estava julgando já algum tempo, só estava aguardando a (minha) razão dar o veredicto final. Era o momento de eu partir, deixar o amor trilhar o seu caminho, abandonar os meus “eus”, acovardar-me, deixar as saudades com os meus familiares, partir num gole de estricnina, esperar um instante e sentir pouco a pouco os meus órgãos falecerem, assim, poderia dançar nos palcos de um lugar incerto, acompanhado da solidão, a música foi a única coisa que consegui levar comigo, ainda a tenho nos meus ouvidos.
Vi a minha mãe bater na porta, mas eu não podia atender, eu não estava mais ali, não os ouvia mais e o meu corpo era apenas matéria sobre a cama que naquele dia estava mais macia. Desesperadamente o meu pai arrombava a porta até todos adentrarem no quarto e me verem ali, paralisada e com os olhos ainda abertos, porém, sem vida. Derramaram lágrimas, mas eu não podia mais ouvir os seus prantos.  Aquele foi um dia trágico para todos que me amavam. Até os meus ursos, que foram espectadores da minha morte, lamentaram a minha silenciosa partida.
Você, que me lê neste momento, já sabe o meu nome. Cometi suicídio aos quinze anos de idade, escrevo este texto póstumo para contar a vocês como eu descobri o amor e como eu decidi morrer por ele. Sou lésbica, fui apaixonada pela Luana que me esqueceu logo após a minha morte, fomos amigas e amantes, nunca tivemos vergonha uma da outra, estávamos sempre de mãos dadas. Os meus pais não sabiam da história que escrevíamos juntas – ou pelo menos fingiam que não sabiam – muitos eram os rumores sobre a minha relação com Luana, mas não ligávamos. Eu acreditei que eu poderia ser feliz até ela decidir que deveríamos dar-nos um tempo antes que os seus pais a expulsassem de casa. Não sei... creio que nas páginas do romance de Luana a Amanda era o amor ideal e eu havia me tornado uma apaixonada terrivelmente chata e cheia de devaneios, aliás, as rosas da Amanda não deixaram Luana sem teto. Eu era o problema. Na Igreja os olhares desconfiados me miravam a todo instante, mas nos ombros da minha mãe eu me sentia protegida, aliás, ela lutou para que a minha carta permanecesse no mesmo lugar todos esses anos – ela sabia de tudo, sempre soube...
Não sei como eu estaria se eu estivesse aí, do lado da vida. Quem eu teria me tornado? Será que eu encontraria os meus desejos em outras pessoas? Não sei, decidi não viver... Apenas sei que a morte fez o meu tempo parar. No meu quarto não dei um gole apenas na estricnina, mas também, dei um último gole de monotonia e parti carregando na mão direita um frasco vazio e na mão esquerda um lenço impregnado com o perfume de Luana que me fez senti-la pela última vez. 


[Fernando de Souza Júnior]
2 de Julho de 2012.

sábado, 23 de junho de 2012

52)-Parte III: Não! (Crônica)



O tempo não parou. Tive certeza disso quando vi a Luana sentada na frente da escola. Ela estava de cabeça baixa, segurava um livro – me parecia um romance – não consegui ler o título. O seu rosto estava em silêncio. Sua boca sussurrava as passagens da trama, lançava-as ao ar e ninguém as ouvia, mas eu as via se perdendo, seguindo sem rumo por qualquer caminho. Os olhos amendoados de Luana refletiam as saudades, os risos, os prantos, os encontros e os desencontros que a envolvia naquelas páginas. Os cabelos longos cobrem parte do rosto e deixa desnudo o pescoço aparentemente inocente, fonte de desejo, portal que me levou aos segredos mais íntimos daquele corpo cheio de pecado e gozo profundo. Exijo de você, leitor, mais respeito! Não admito que leia a minha intimidade como se estas fossem clichês de pornochanchada barata. Foram momentos como estes que me trouxeram pra cá e me deixaram longe da minha Princesa. Enfim, deixarei isso para um outro momento, o que importa agora é o meu reencontro com a minha amada. Eu deixei que os meus olhos navegassem pelos mares daquela beleza proibida com a missão de regressar-me ao corpo que estava resguardado por dentro da camiseta branca do colégio que mantinha em segredo aqueles seios erguidos, frescos e insaciáveis que trazia pra vida a menina em forma de mulher, a calça azul do uniforme dava tom e contorno às linhas curvas das coxas endiabradas que despertavam o prazer até nas almas mais ingênuas – se é que existe alguma alma ingênua.
Hoje é dia 27 de junho, aniversário da Luana, eu não me esqueci. De presente trouxe a carta que traz palavras carregadas de mim. Acho que ela irá gostar de saber que um dia eu escrevi sobre nós, guardei esses sentimentos por muitos anos, não deixei me abater pelo tempo e aqui estou, pronta para entregar um trecho da história que juntas vivemos. Bate o sinal, as pessoas correm em direção ao corredor central que leva-os para as salas. Luana ergue a cabeça, lança um sorriso em direção incerta, marca a página e fecha o livro, se levanta e enquanto todos seguem seus destinos com passos eufóricos ela permanece parada na porta do colégio, parece que espera alguém e não tarda para que uma outra beldade tome nos braços a minha Luana! O abraço e o beijo que um dia foram meus, só meus, agora fazem parte de outra pessoa. As duas adentraram a escola e abraçadas caminharam juntas para a sala de aula. O corredor parecia não ter mais fim, a carícia entre as duas eram das mais intimistas possíveis, aliás, aquele dia era um dia especial. Num dos bolsos da mochila daquela que ocupara o meu lugar havia uma rosa – Luana adora rosas – a fragilidade das pétalas encanta quando toca na pele dela.
A Luana não poderia ter me esquecido! Levei as duas mãos ao rosto e inconformada, gritei; Não! As pessoas sempre me esquecem, o tempo parou pra mim e fez com que as pessoas que eu amava me esquecessem. Maldita memória! Sempre vítima do tempo. Fui vítima do tempo e do desamor. Fraca, encostei-me na parede e em silêncio permaneci por algumas horas. Pensativa, tentei buscar a reposta do porquê. Amanda... Nossa amiga, tratou de ocupar o lugar que foi meu no coração de Luana. Talvez elas já estivessem se relacionando antes da minha partida... Guardei a minha paixão dentro do peito por tanto tempo e quando me deparo com ela a vejo no impossível. Esperava me entregar novamente à Luana, mas como? Não tenho forças nem para procurar saber se algum dia fui traída pelo Amor que descobri nos lábios da minha Princesa. Ferir-me mais pra quê? Na verdade eu já não sinto mais a dor, estou anestesiada pela minha última atitude. Revirar o passado é difícil, assim como voltar é difícil, ver o meu amor caminhando num corredor e adentrando em outro coração é um sofrimento que eu não esperava sentir agora...
Sentei-me no chão, reli a carta, as lágrimas que escorriam dos meus olhos caiam sobre as palavras como meteoro e as desfaziam pouco a pouco. Passaram-se instantes e vi que todas as palavras deixaram de existir. Na superfície do papel havia apenas borrões de uma história sem final. Não entreguei a carta à Luana, nunca a esqueci e nem sei se, algum dia, vou conseguir esquecê-la. O meu coração é a morada dos momentos.
Eu aqui sentada, sozinha, seguro em minhas mãos uma folha de papel borrada e amassada, olho para cima e imagino a Amanda tirando a rosa aveludada da mochila, presenteando Luana – as duas sorriem uma para outra – o perfume da rosa impregna o âmago da amante, o abraço é mais quente hoje, a troca de olhar é mais profunda e o beijo na boca é o ponto final deste texto.

Continua...
  

segunda-feira, 11 de junho de 2012

51)-Parte II: Vaivéns (Crônica)



Voltar é difícil. Dá uma sensação de tristeza, bate uma saudade... Sim, sensações estas que me levam a um ligeiro arrependimento. Por que fui amar alguém? Não sei, apenas sei que jamais as coisas serão como antes. O meu quarto está frio, a luz está apagada, a janela está entreaberta permitindo a entrada de um feixe de luz natural que ilumina parcialmente o cantinho que ainda é meu. A minha mãe manteve a porta trancada desde o dia da minha partida, os móveis ainda permanecem no mesmo lugar, os livros, os ursos, as fotografias, as minhas canetas agora são apenas recordações e não mais parte de mim, daquela vida que vivi ou daquelas coisas que senti. Aquele cantinho, que sempre foi meu, agora é um cenário mórbido. Triste? Sim... Mas eu voltei. Quero desenterrar as palavras que aqui deixei. Quero relê-las. Quando eu as escrevi não tive coragem de entregar ao meu último Amor, me arrependo por isso, ainda hoje sofro.
Aqui estou diante das minhas últimas palavras. Nesta carta eu narrei os momentos que protagonizei junto da minha Princesa. Passamos um bom período nos censurando, nos amando veladamente... Você, leitor, aquiete-se! Leia silenciosamente a carta que escrevi e que ainda hoje permanece aqui, sobre a minha escrivaninha.

Oi Luana!

Eu espero que você esteja bem. Sabe, nos últimos dias tenho pensado muito em nós, no que vivemos juntas, das nossas confidências, da nossa primeira conversa... Nossa! O tempo passou tão rápido... em mim ainda existe a vontade de viver um pouco mais da nossa História.
Nunca hei de esquecer aquele dia em que andávamos juntas no parque de mãos dadas, o vento forte em nossas faces, as folhas caindo das árvores, o sol brilhando só para nós, o céu azul, tudo foi tão lindo... Esse dia passa diante dos meus olhos como um Filme. Lembra daquele “Eu te Amo”? Ficamos tão extasiadas. Confesso-te que o meu coração bateu forte e o seu?
Desde o momento em que nos conhecemos, na festa da escola, jurei para mim mesma que seria você a pessoa que eu confiaria todos os meus sentimentos. Você me viu chorar muitas vezes, me fez rir outras tantas. Fomos uma realidade. Uma realidade louca! (risos)
Lembra do dia que nós brigamos? Foi por um motivo tão idiota, ficamos sem nos falar por uma semana, mas nós nos amávamos e não resistimos a distancia, nos abraçamos, os nossos corpos estavam fervorosos e nem precisamos dizer nada, apenas nos olhamos e vimos refletidos em nossos olhos o sentimento ainda mais latente, vivo, nos beijamos pela primeira vez... Naquele momento percebemos que o Amor era uma coisa que existia de verdade.
Eu quero te dizer que eu não me arrependo de nada que fizemos juntas, pelo contrário, me arrependo das chances que tivemos de irmos além da nossa loucura e deixamos passar. Incrível não?! Você chegou assim, de pára-quedas, nessa confusão chamada “minha vida” e já foi tomando conta de mim. Eu não me imagino mais sem você.
Linda. É assim que você é quando fica brava comigo. Quem eu serei sem as tuas broncas, sem os teus abraços e sem o seu perfume? Ninguém, ou melhor, serei uma metade sem razão.
Ao seu lado eu fui mais do que feliz, fui um ser completo. Você é mais do que uma melhor Amiga, você é a minha paixão. Por isso, nunca conseguirei te agradecer o suficiente pelas longas horas que passamos juntas. Nunca... Nos períodos difíceis, nas horas felizes e nos momentos mais loucos era você que estava ali, ao meu lado.
Saiba de uma coisa: “Eu te Amo e Sempre vou te Amar.”

Daquela que sempre te carregará no coração: Cristina M.   
      
Por que a minha mãe deixou essa carta aqui esses anos todos? Será que ela quis deixar vivos os meus últimos sentimentos? Ela sempre soube de tudo... Para mim essas palavras estão mortas, vim desenterrá-las e encorajar-me a entregar esta carta à Luana que deve estar triste a espera de alguma justificativa, sei lá... Algo concreto que explique essa minha partida trágica.
Algum tempo passou, nesta casa me tornei uma recordação, assim como todos os meus abjetos. É certo que alguma hora minha mãe entrará aqui, neste exílio que foi meu, se lembrará de mim, mas sobre a escrivaninha só restarão a caneta e os dois CDs. Esses sentimentos, que um dia foram meus, devem chegar nas mãos da minha Princesa. É importante que ela saiba o quanto eu fui apaixonada nesta vida tão breve.

Continua...