É nesta madrugada fria de domingo que eu
me faço prisioneiro do meu silêncio. Me tranco no quarto fantasia e sem
chocolate quente e fones de ouvido me contento com a luz melancólica do abajur que se espalhada
pelo quarto dando uma tonalidade sombria aos móveis escassos do velho romântico.
O rádio que está sobre o criado mudo toca uma música qualquer, eu não me atento
na música, ouço apenas a sua voz, os meus olhares estão perdidos em horizontes infinitos e numa
poltrona confortável tento apanhar no ar as lembranças daquilo que vivemos
juntos.
Será que você ainda se lembra de mim? Creio
que não... O meu nome é Glauber Delfim, por algum tempo fui figurante da sua
história. Os toques das tuas mãos trouxeram-me inspirações que ainda sobrevivem
ao tempo. Tempo este que fez da palavra a vida para aquela Amizade incerta.
Amizade, palavra bonita. Não mereceu ser assassinada por ti, esta só ganha
significado com o tempo... Mas o que foi o tempo pra você?
Oras, você... Personalidade insegura,
medrosa, que se rebate revoltosa querendo sair desta bolha que te envolta para
sentir o calor da vida, tocar na realidade do mundo – não o teu mundo perfeito,
mas o mundo que é mundo. Você, que às vezes me presenteava com um sorriso
tímido colocando a mão na boca. Você, que anda de um jeito engraçado e nem olha
pra trás quando volta para casa – confesso-te que isso me permitiu rires de ti
sem que tu percebesses. Você, que me repreendeu dizendo: “Eu tô falando sério, eu não estou brincando!” Ninguém mandou eu
rir na hora errada... Você, que balançou a cabeça quando eu elogiei os seus
escritos deixando-me curioso sobre o que se passara em tua mente naquele
momento. Você sempre esteve ali, tão perto e tão longe de mim.
Antes de partir eu fui visitá-la, mas
neste dia você não estava em casa, então, escrevi-te este bilhete e deixei-o
sobre a sua escrivaninha:
Você não leu o bilhete. Mesmo eu estando longe consegui ver-te adentrando o seu quarto com uma expressão triste, jogaste a
mochila sobre a cama, apanhara uns rascunhos que estavam sobre a mesa e jogou-os fora, sem perceber você apanhou um pedacinho de papel, amassou numa das mãos e arremessou-o para fora da janela – era o bilhete que vos trazia um pedaço do
meu “eu”.
As palavras voaram como borboletas... Mesmo assim consegui imaginar-te em um suspiro longo na beira da cama, colocando
as duas mãos no rosto deixando escorrer entre os dedos uma lágrima que ao estilhaçar-se no chão revelava a sua vontade de voltar no tempo e reviver
aqueles minutos que valeram a pena. Deitaste na cama de uma vez... Tu já estavas
exausta daquele dia estafante e de toda aquela gente horrível.
O rádio continua tocando, desta vez eu
volto os meus ouvidos à melodia que, por incrível que pareça, trazia em sua
letra as risadas que demos juntos até a barriga doer, as confissões que fizemos
um ao outro, a nossa perfeição/imperfeita, o trecho de vida que valeu a pena
termos vivido juntos e as juras do Amor mais sincero do mundo.
Agora eu estou longe de você vivendo dias carregados de recordações. Te vejo e te sinto em cada coisa. Na música nos reencontramos e dançamos em paz neste nosso mundo abstrato até chegar novamente o momento de eu estar ao lado do seu alguém,
sempre seu...
Sempre seu, expressão bonita. Sente o que
eu quero dizer em “sempre seu”? Isso mesmo...
P.S.: "Dedicado ao jardim de palavras da Senhorita Yumei."
[Fernando de Souza Júnior]
27 de Maio de 2012
P.S.: "Dedicado ao jardim de palavras da Senhorita Yumei."
[Fernando de Souza Júnior]
27 de Maio de 2012