Meu nome é Glauber Delfim. Vivo paixões
que me surpreendem. Paixões que me fazem viver momentos inesquecíveis. Hoje eu
abri a janela do meu quarto e me deparei com uma manhã feliz. A manhã estava
mais bonita e inspirada o bastante para fazer com que o sol brilhasse e desse a
mim cores mais quentes e vivas. Lá fora as pessoas contornavam as suas rotinas ao
caminharem pelas ruas.
Naquele momento a minha janela servira de
camarote e eu era o espectador de toda aquela encenação. Em meio aquele
vai-e-vem de pessoas eu me perdia em diferentes emoções.
A manhã não estava bonita à toa. Ela
sabia que a minha paixão não resistiria e insistiria em dar uma passadinha em
minhas lembranças. A manhã estava inspirada e, com isso, eu também acabei
ficando...
Fui até a minha escrivaninha peguei uma
folha de papel em branco e um lápis 6b e voltei pra janela – eu queria
aproveitar as cores do dia e as tramas que lá fora aconteciam. Debrucei-me na
janela e ali comecei a rabiscar e em instantes os traços começara a ganhar as
formas do meu sorriso – detalhes de mim que só são possíveis por causa da minha
paixão. Eu, sozinho naquela folha em branco não era o bastante, o momento pedia
mais, era preciso desenhar um cenário capaz de tornar memorável um trecho da
história que é nossa. O Parque de Diversões foi a minha escolha.
Rabisco. Em cada traçar de lápis o
desenho ganha vida. É possível ouvir a multidão de passos e os burburinhos das
pessoas. Nas enormes filas os casaizinhos de namorados se beijam, outros
casaizinhos se entreolham, outros casaizinhos discutem, outros casaizinhos
ficam de mãos dadas e há também os novos casaizinhos que se unem ali mesmo, na
fila. Por isso, não existe outro cenário melhor para vivermos um breve momento
daquela história que é nossa. O barulhinho do riscar do lápis é bom.
Risco. Este deu-nos vida breve e naquele
instante eu pude ver-nos andar sobre a folha de mãos dadas, caminhávamos pelo Parque Fantasia e a cada passo nos
descobríamos mais. Foram nos brinquedos altos que giram lá encima que superamos
os nossos medos, os nossos corpos não tinham peso algum quando estavam nas
alturas. Nos instantes de coragem abríamos os nossos olhos e de lá de cima
víamos a cidade toda e as pessoinhas nos olhando de lá de baixo. Gritávamos que
nem loucos!
Empolguei-me a desenhar. Corri até a escrivaninha
e apanhei outra folha de papel em branco, nesta eu desenhei um momento único
dessa história que é nossa.
Voltei pra janela, a manhã já estava se
despedindo de mim, segue alegremente para o amanhã incerto e a tarde que chega
se encarrega de dar seguimento à felicidade plantada pela manhã. Olhei para o
céu e o sol parecia estar maior, mais bonito e mais quente também.
Retomo-me a desenhar. Na folha quebrei a
vazies do branco com uma circunferência. Seria na roda gigante que
manifestaríamos o ápice do nosso carinho. Neste desenho nós não tememos mais às
alturas e o meu lápis faz girar a roda gigante. E lá encima não hesitamos em
dar início a um beijo interminável. A sua boca estava mais quente, mais rosada
e as suas bochechas estavam vermelhas anunciando uma leve timidez. Acolhi-te em
meus braços e com uma das mãos eu acariciava a maciez da pele branquinha do seu
rosto.
A roda gigante dá a sua última volta.
Aproveitamos para sentir mais daquele momento bom. Embora a roda gigante gire
conosco pela última vez eu acredito que estaremos juntos em outros lugares,
sozinhos ou entre amigos, em dias de chuva, na rua, em algum lugar estaremos
construindo a história que é tua e minha. A roda gigante pára, é tempo de sair
da cabine. Despreguiçamo-nos... Demo-nos as mãos e na noite iluminada pelas
luzes coloridas do Parque caminhamos devagar rumo à próxima página da história
que é desenhada e escrita por nós.
Parei de desenhar. Olhei lá fora e vi que
era o momento do sol se pôr. Fitei por algum tempo os desenhos que eu havia
feito, dei um breve sorriso e percebi que sou capaz de registrar momentos que
eu adoraria viver com você. Então, guardei os desenhos numa pasta voltei a me
debruçar na janela – já era noite – as pessoas não mais caminha pelas ruas, a
encenação havia acabado, mas as estrelas estavam fixadas no céu, brilhando,
dando a mim outros tons, o ar estava fresco e fez-me respirar fundo a paixão
que eu sinto por você.
P.
S.: Sigo sonhando.
[Fernando de Souza Júnior]
22 de Abril de 2012