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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

30)- Espetáculo (Poema)




Essa coisa chamada “tempo”
assopra-nos de um lado p’outro,
transforma-nos em outros,
deixa-nos loucos...

Protagonizamos uma peça
cujo título é “Conflitos”, desafia-nos
quando optamos nos arriscar,
ser novo nos palcos da vida.

Com a máscara da felicidade
interpretamos um sorriso falso.
Bravo! Merecemos aplausos...

Com a máscara da tristeza
verdadeiramente somos humanos,
solitários e contornados de segredos.

P.S: "Dedicado a Senhorita Yumei que tem a vida como sua obra prima." 

[Fernando de Souza Júnior]
1 de Fevereiro de 2012 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

29)- Domingo (Poema)



Segunda-feira, pensamento que voa
vida que não é a toa passa e é única.
Terça-feira, passos que persistem,
mente que se distrai sem eira...

Quarta-feira, dia de curta-metragem
filme sem personagem, só cenários.
Quinta-feira, ventos fortes, uniformes
as folhas caem em silêncio.

Sexta-feira, ônibus abafado e cheio
de gente de outros mundos, ordinárias.
Sábado, todo mundo surdo e mudo.

Domingo, tem olhos castanhos,
pele branca, fragilidade que encanta,
Sorriso lindo que me deixa estranho.

[Fernando de S. Júnior]
25 de Janeiro de 2012.  

domingo, 22 de janeiro de 2012

28)- A Caixa (Poema)



Você é mais do que um presente.
Com este sorriso tímido e doce
você se torna mais do que envolvente.
Você... Misteriosa, companhia ausente.

Esse seu perfume é tão marcante
que impregna no toque, eu sinto...
Me desperta o desejo errante, 
dá vida às minhas vontades. 

Ontem você não foi, me escreveu
e quando li, não fui mais eu, agradeci...
Fiz daquelas palavras meu rebento.

Numa caixa, guardei o meu carinho,
postei no Correio e soube que tu recebeu
a caixa que não errou o caminho.

[Fernando de Souza Júnior]
22 de Janeiro de 2012

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

27)-Amigos Velhos (Poema)




Há velhos que são novos amigos
cheios de histórias novas de tempos velhos
ouvem um ao outro num dia passeante que 
finda diante dos olhos que reprisam contos.


Toda geração tem um "novo" próprio,
mas o tempo é o incomum de todas
e a insistência dos velhos amigos
é de que o tempo bom eram os velhos.


Histórias, cada uma com o seu contemporâneo,
cada contemporâneo com o seu passado,
cada passado hão de ter o seu futuro
e cada futuro carregará o seu incerto.


Amigos, novos na amizade e vividos em suas tramas. 
Até se acomodaram no tempo para continuar contando
os avessos de algum passado que se perdeu 
e os fizeram breves e cheios de saudades.


A morte imperfeita, má e injusta, com a sua vilania, 
assassinou um dos amigos deixando o "outro"  
na companhia da vida e das velhas lembranças
que até alguns instantes riam como jovens...


[Fernando de Souza Júnior]
19 de Julho de 2006/Abril de 2012 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

26)- Seres Injustiçados (Poema)


Defronte a Justiça
não há Justiça.
Nos cantos da cidade
seres Injustiçados.


Eles não tem roupas,
eles não usam sapatos,
é gente de todas as etnias;
Negros, brancos e pardos.


Bebem águas impuras,
comem apenas trocados,
almejam deixar essa vida
de Seres Injustiçados.


[Fernando de Souza Júnior]
26 de Agosto de 2005

domingo, 8 de janeiro de 2012

25)- Mano Velho (Crônica)



Essa vida é cheia de personagens. Por onde passamos sempre há uma figura marcante, aquele que está entre todos, mas as pessoas só lembram dessa figura quando precisam de algum favor. É sempre assim...
Num bairro pobre em uma região qualquer na cidade de São Paulo viveu o Mano Velho, um velhaco alto, magro, barbudo e sempre com as roupas sujas e mal cheirosas.
Na hora de comprar um cigarro no Bar, para carregar um entulho e limpar o lixo chamava o Mano Velho, o gente fina.
Ninguém sabia da história de vida daquele velho. Um passado oculto. A memória do Mano Velho tratara de apagar as tristes lembranças e levar aquela alma vagar pelo submundo dessa cidade podre.
Num terreno baldio, o Mano Velho dormia todas as noites em um colchãozinho fininho doado por algum morador, havia espaço no colchão do Mano Velho para aconchegar os ratos. Durante a noite os sonhos o devorava, por vezes revelavam números que seriam o palpite do jogo do bicho no dia seguinte, mas na maioria das vezes estes sonhos se revertiam em histórias que ele contara nas portas dos botecos do bairro e quase ninguém se convencia daquele jogo de palavras, era o Mano Velho, o malandro e protagonistas do seu imaginário.
A sofreguidão do Mano Velho não era amenizada pelas pessoas que o pediam favor e nem pelos cachorros sarnentos que dividiam o almoço com ele, era a cachaça que com o traspassar dos dias o mutilara. Podia ser da raiz, a branquinha ou amarelinha, qualquer uma tinha o segredo para agradar o paladar do velho e fazê-lo esquecer daquela vazies interior que secara as lágrimas do homem ferido pelo tempo.
Todos os dias eram os dias de todos os botecos. Lá estava o Picareta! Entre uma história e outra uma dose de falsa alegria.
Em uma dessas manhãs anônimas fazia muito frio, os passos se aceleravam de maneira desgovernada, mas seguiam rumos individuais, os Bares abriam as portas, os ônibus lotados seguiam suas rotas guiadas pelos xingamentos e reclamações dos passageiros impacientes. Essa cidade é assim mesmo... tem muitas vozes, muitos tons e muitos sons, assim, somos nós integrantes desta grande banda desafinada.
Mas nesta manhã faltara um integrante. O Mano Velho não estava lá. Não haveria  cânticos naquela manhã? O dono de um dos bares preparou um pão com margarina e um café com leite num copinho descartável e seguiu ao terreno onde descansava o Mano Velho. Lá estava o picareta, deitado no seu colchãozinho fino, com as suas roupas mal cheirosas, com a boca aberta, pálido e enrolado num cobertor.
O dono do Bar chamava, mas o Mano Velho não mais ouvia. O dono do Bar chamava, mas o Mano Velho não mais abria os olhos. O dono do Bar chamava, mas o Mano Velho não mais mexia o corpo. O dono do Bar chamava, mas o Mano Velho não mais despertaria para reviver as suas histórias. Então, o dono do Bar e aquela fria manhã anônima choraram juntos a partida daquele picareta que agora encontrava-se eternamente preso em seus sonhos.
O dono do bar ajoelhou-se, pôs a mão direita na testa gelada do velho e disse baixinho: “Mano Velho, picareta, onde quer que estejas, estarás tu melhor do que aqui..."

Fernando de Souza Júnior.