O tempo não parou. Tive certeza disso
quando vi a Luana sentada na frente da escola. Ela estava de cabeça baixa, segurava
um livro – me parecia um romance – não consegui ler o título. O seu rosto estava em
silêncio. Sua boca sussurrava as passagens da trama, lançava-as ao ar e
ninguém as ouvia, mas eu as via se perdendo, seguindo sem rumo por qualquer
caminho. Os olhos amendoados de Luana refletiam as saudades, os risos, os
prantos, os encontros e os desencontros que a envolvia naquelas páginas. Os
cabelos longos cobrem parte do rosto e deixa desnudo o pescoço aparentemente
inocente, fonte de desejo, portal que me levou aos segredos mais íntimos
daquele corpo cheio de pecado e gozo profundo. Exijo de você, leitor, mais
respeito! Não admito que leia a minha intimidade como se estas fossem clichês
de pornochanchada barata. Foram
momentos como estes que me trouxeram pra cá e me deixaram longe da minha Princesa. Enfim, deixarei isso para um
outro momento, o que importa agora é o meu reencontro com a minha amada. Eu
deixei que os meus olhos navegassem pelos mares daquela beleza proibida com a
missão de regressar-me ao corpo que estava resguardado por dentro da camiseta
branca do colégio que mantinha em segredo aqueles seios erguidos,
frescos e insaciáveis que trazia pra vida a menina em forma de mulher, a calça
azul do uniforme dava tom e contorno às linhas curvas das coxas endiabradas que
despertavam o prazer até nas almas mais ingênuas – se é que existe alguma alma
ingênua.
Hoje é dia 27 de junho, aniversário da
Luana, eu não me esqueci. De presente trouxe a carta que traz palavras
carregadas de mim. Acho que ela irá gostar de saber que um dia eu escrevi sobre
nós, guardei esses sentimentos por muitos anos, não deixei me abater pelo
tempo e aqui estou, pronta para entregar um trecho da história que juntas
vivemos. Bate o sinal, as pessoas correm em direção ao corredor central que
leva-os para as salas. Luana ergue a cabeça, lança um sorriso em direção
incerta, marca a página e fecha o livro, se levanta e enquanto todos seguem
seus destinos com passos eufóricos ela permanece parada na porta do colégio,
parece que espera alguém e não tarda para que uma outra beldade tome nos braços
a minha Luana! O abraço e o beijo que um dia foram meus, só meus, agora fazem parte
de outra pessoa. As duas adentraram a escola e abraçadas caminharam juntas para
a sala de aula. O corredor parecia não ter mais fim, a carícia entre as duas
eram das mais intimistas possíveis, aliás, aquele dia era um dia especial. Num dos bolsos da mochila daquela que ocupara o meu lugar havia uma rosa – Luana adora
rosas – a fragilidade das pétalas encanta quando toca na pele dela.
A Luana não poderia ter me esquecido! Levei
as duas mãos ao rosto e inconformada, gritei; Não! As pessoas sempre me esquecem, o tempo parou pra mim e fez com
que as pessoas que eu amava me esquecessem. Maldita memória! Sempre vítima do
tempo. Fui vítima do tempo e do desamor. Fraca, encostei-me na parede e em silêncio
permaneci por algumas horas. Pensativa, tentei buscar a reposta do porquê.
Amanda... Nossa amiga, tratou de ocupar o lugar que foi meu no coração de
Luana. Talvez elas já estivessem se relacionando antes da minha partida...
Guardei a minha paixão dentro do peito por tanto tempo e quando me deparo com
ela a vejo no impossível. Esperava me entregar novamente à Luana, mas como? Não
tenho forças nem para procurar saber se algum dia fui traída pelo Amor que
descobri nos lábios da minha Princesa.
Ferir-me mais pra quê? Na verdade eu já não sinto mais a dor, estou anestesiada
pela minha última atitude. Revirar o passado é difícil, assim como voltar é
difícil, ver o meu amor caminhando num corredor e adentrando em outro coração é
um sofrimento que eu não esperava sentir agora...
Sentei-me no chão, reli a carta, as
lágrimas que escorriam dos meus olhos caiam sobre as palavras como meteoro e as
desfaziam pouco a pouco. Passaram-se instantes e vi que todas as palavras
deixaram de existir. Na superfície do papel havia apenas borrões de uma
história sem final. Não entreguei a carta à Luana, nunca a esqueci e nem sei se,
algum dia, vou conseguir esquecê-la. O meu coração é a morada dos momentos.
Eu aqui sentada, sozinha, seguro em
minhas mãos uma folha de papel borrada e amassada, olho para cima e imagino a
Amanda tirando a rosa aveludada da mochila, presenteando Luana – as duas
sorriem uma para outra – o perfume da rosa impregna o âmago da amante, o abraço
é mais quente hoje, a troca de olhar é mais profunda e o beijo na boca é o
ponto final deste texto.
Continua...