Num dia qualquer, quente, a cidade fedia,
os seus ares tomados pela fuligem das fumaças e o trânsito insuportável nas
principais avenidas não intimidavam certo vendedor de vassouras que cantava no canteiro
central de uma dessas avenidas movimentadas.
Mulheres, gays, crianças e homens de
todas as estirpes passavam por ali, uns davam atenção para a canção do Vassoreiro,
outros, faziam dele um fantasma que ali estava em plena luz do dia – invisível.
O Vassoreiro um sorriso dava quando
conseguia uma venda, cantava, mas não encantava, aquele objeto era só uma
necessidade e o Vassoreiro apenas um alguém que ali estava para isso mesmo...
Cansado de ser aquele que cantava, mas
que a atenção quase ninguém o dava, prometeu para si mesmo que se vingava. Os dias
frios e quentes se passavam e aqueles desejos de vingança lhe aguçavam, tal
agudeza que o acabrunhava e esse acabrunhamento de nada adiantava.
A sua própria raiva o confrontava. Um
determinado dia o Vassoureiro silenciara. As pessoas que ali passavam e para
ele olhavam já nenhum sorriso davam e aqueles raros sorrisos já o faziam falta.
Outro dia qualquer, quente, a cidade
fedia e os ares tomados pela fuligem das fumaças e o transito insuportável nas
principais avenidas o Vassoreiro decidiu voltar a cantar. Os sorrisos
reconquistar. Mas já era tarde, porque todas as pessoas já o ignoravam.
[Fernando de Souza Júnior]
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