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domingo, 27 de maio de 2012

49)-Sempre Seu... (Crônica)



É nesta madrugada fria de domingo que eu me faço prisioneiro do meu silêncio. Me tranco no quarto fantasia e sem chocolate quente e fones de ouvido me contento com a luz melancólica do abajur que se espalhada pelo quarto dando uma tonalidade sombria aos móveis escassos do velho romântico. O rádio que está sobre o criado mudo toca uma música qualquer, eu não me atento na música, ouço apenas a sua voz, os meus olhares estão perdidos em horizontes infinitos e numa poltrona confortável tento apanhar no ar as lembranças daquilo que vivemos juntos.
Será que você ainda se lembra de mim? Creio que não... O meu nome é Glauber Delfim, por algum tempo fui figurante da sua história. Os toques das tuas mãos trouxeram-me inspirações que ainda sobrevivem ao tempo. Tempo este que fez da palavra a vida para aquela Amizade incerta. Amizade, palavra bonita. Não mereceu ser assassinada por ti, esta só ganha significado com o tempo... Mas o que foi o tempo pra você?
Oras, você... Personalidade insegura, medrosa, que se rebate revoltosa querendo sair desta bolha que te envolta para sentir o calor da vida, tocar na realidade do mundo – não o teu mundo perfeito, mas o mundo que é mundo. Você, que às vezes me presenteava com um sorriso tímido colocando a mão na boca. Você, que anda de um jeito engraçado e nem olha pra trás quando volta para casa – confesso-te que isso me permitiu rires de ti sem que tu percebesses. Você, que me repreendeu dizendo: “Eu tô falando sério, eu não estou brincando!” Ninguém mandou eu rir na hora errada... Você, que balançou a cabeça quando eu elogiei os seus escritos deixando-me curioso sobre o que se passara em tua mente naquele momento. Você sempre esteve ali, tão perto e tão longe de mim.
Antes de partir eu fui visitá-la, mas neste dia você não estava em casa, então, escrevi-te este bilhete e deixei-o sobre a sua escrivaninha:



    Você não leu o bilhete. Mesmo eu estando longe consegui ver-te adentrando o seu quarto com uma expressão triste, jogaste a mochila sobre a cama, apanhara uns rascunhos que estavam sobre a mesa e jogou-os fora, sem perceber você apanhou um pedacinho de papel, amassou numa das mãos e arremessou-o para fora da janela – era o bilhete que vos trazia um pedaço do meu “eu”.
As palavras voaram como borboletas... Mesmo assim consegui imaginar-te em um suspiro longo na beira da cama, colocando as duas mãos no rosto deixando escorrer entre os dedos uma lágrima que ao estilhaçar-se no chão revelava a sua vontade de voltar no tempo e reviver aqueles minutos que valeram a pena. Deitaste na cama de uma vez... Tu já estavas exausta daquele dia estafante e de toda aquela gente horrível. 
O rádio continua tocando, desta vez eu volto os meus ouvidos à melodia que, por incrível que pareça, trazia em sua letra as risadas que demos juntos até a barriga doer, as confissões que fizemos um ao outro, a nossa perfeição/imperfeita, o trecho de vida que valeu a pena termos vivido juntos e as juras do Amor mais sincero do mundo.
Agora eu estou longe de você vivendo dias carregados de recordações. Te vejo e te sinto em cada coisa. Na música nos reencontramos e dançamos em paz neste nosso mundo abstrato até chegar novamente o momento de eu estar ao lado do seu alguém, sempre seu...
Sempre seu, expressão bonita. Sente o que eu quero dizer em “sempre seu”? Isso mesmo...      

P.S.: "Dedicado ao jardim de palavras da Senhorita Yumei."

[Fernando de Souza Júnior]
27 de Maio de 2012

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