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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

64)-Caetano canta baixinho... (Crônica)



Depois de tanto escrever, me arrependi e arranquei furiosa algumas das páginas desse diário porque tudo o que eu havia escrito sobre mim estava errado. Eu mesma não me conheço. Estúpida! Narrei parte da minha vida de maneira confusa, li e reli todas aquelas palavras que se equilibravam nas linhas para fazer desta minha vidinha um espetáculo decente, algo que enchesse e impressionasse os olhos do honorável público. Impossível... não há como ser interessante quando se vive parada no tempo, tudo parece tão desconexo. Já não faço mais sentido – ou faço, mas o que eu ainda não entendi é que o meu sentido é outro. Que outro?! Tudo errado... Agora entendo porque é tão difícil acreditar nas lembranças, elas variam a todo instante!
Mayara F., esse é o meu nome. Tenho vinte e um anos e o meu lugar favorito ainda continua sendo aqui, o meu quarto - aqui eu escondo as minhas intimidades. Aliás, aqui é o meu mundo. Nossa, já é madrugada, o relógio acelera o tempo, pra mim tanto faz, todos os dias é um hoje qualquer. Agora me dedico a escrever. Escrevo cuidadosamente essas frases para que estas de maneira alguma herdem a estupidez que fiz questão de amassar e jogar no lixo. Penso... Penso em mim mesma, a luz branca do abajur ilumina a folha de papel que aos poucos se preenche de mim, a minha face é oculta, além de eu não mais me reconhecer esqueci-me de como é o meu rosto – não me olho no espelho já fazem cinco anos... Mas isso não interessa, eu acho.
O rádio está ligado, num volume baixinho Caetano canta lindamente a melodia que me faz sonhar: “Que vontade que eu sinto/De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços/É verdade, eu não minto...” Essa música sempre toca, parece que é exclusivamente pra mim. As músicas são compostas para serem nossas e “Você não me ensinou a te esquecer” foi escrita para ser minha. Toca baixinho enquanto escrevo e imagino...  Sabe, sempre quis viver um romance. Creio que isso já não mais existe. Ou existe? Você, leitor que vive aí fora responda-me: Ainda existem romances? Oras... maldita hora que me perdi neste vazio, que me atirei no abismo da solidão por causa nenhuma. Não existe depressão em mim, nada existe aqui. Ou existe? Você, leitor que vive aí fora responda-me: Além da canção existe alguma coisa em mim?
Tenho a sensação de que aqui está ficando tão pequeno... Mal cabe a minha cama, minha escrivaninha, meu criado mudo e os meus sonhos! Sim, sonhos, eu também tenho os meus. Enquanto a música toca, eu escrevo e faço planos para o meu casamento. Sou apaixonada por um “alguém” que na verdade nem conheço, mas já o tenho como marido. Deus deve estar cuidando dele pra mim... Então eu escrevo essas palavras à ele: “Quero que venha me encontrar, quero que me conheça... saiba que aqui estou a espera de ti (risos)”.
Querido diário; não tenho mais forças para continuar, ou seja, por hoje chega! Enquanto imagino um fim louvável para as minhas fantasias Caetano canta baixinho: “já cheguei a tal ponto/de me trocar diversas vezes por você/só pra ver se te encontro...”

Primavera de 2012.  
  

2 comentários:

  1. Me he tomado mi tiempo, para leer cuidadosamente cada palabra. Meu amigo, es un bellísimo escrito. La música de Caetano Velosso, es una música preciosa, tengo la fortuna de conocer su música, por un programa de televisión de mi pais, y hoy , encontrar una mención de Caetano, ha echo que me emocione mucho, tu escrito es tan personal, tan detalloso, que no me queda más que decirte, con todo el respeto que le tengo meu amigo: ¡Felicidades por escribir así!!...Abrazos sinceros!!

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  2. Meu amigo, me gustaria publicar en el blog de "Poetas de libre sentimiento", esta maravillosa prosa. Espero tu respuesta, debes saber que se traducirá con la mayor fidelidad posible, y que antes de publicarlo se te mostrará, y si después de publicado surge alguna molestia de tu parte por favor no hay problema, puedes decirlo con total confianza!, Si deseas que lo publiquemos por favor respondeme, me gustaría que más personas lean tus escritos! puedes responderme a estos correos: heraldocruzes@yahoo.es / poetasdelibresentimiento@yahoo.com / o si deseas buscarme en el Facebook, me encuentras con : Heraldo Cruzes. Un fuerte abrazo!!, y si no deseas que lo publiquemos, no te preocupes, se respeta tu decisión totalmente, eso no disminuirá el respeto y la admiración que siento por tu maravilloso y bello trabajo!!

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