Powered By Blogger

segunda-feira, 4 de junho de 2012

50)-Parte I: Eu, Cristina Moraes (Crônica)



Antes de fechar os meus olhos a última imagem que vi foi a da minha princesa. Eu estava deitada na cama com os olhos fixados no teto e ela estava ali, na minha imaginação, mas parecia tão real... Chovia muito naquele dia, mas eu não ouvi as gotas baterem na janela. Apenas me recordo que chovia. A luz do abajur dava um tom gracioso para o meu quarto. A minha mãe havia deixado tudo arrumado; os livros estavam todos organizados nas prateleiras, a minha escrivaninha também estava em ordem, as canetas estavam dentro daquela caneca que eu tinha ganhado de presente no dia em que completamos um ano de amizade, o painel com as nossas fotografias dava ainda mais vida às minhas lembranças, tanto que ficava bem em frente a minha mesa e quando eu queria alguma inspiração eu olhava para nós e me enchia de ideias, a luminária estava desligada, haviam sobre a escrivaninha apenas dois CDs, uma caneta e uma folha com alguma coisa que eu tinha escrito – agora não me recordo.  O meu quarto estava tão perfumado. Os ursos pareciam olhar para mim, todos enchiam de carinho aquele cantinho que era meu, só meu. A minha cama estava mais macia naquele dia...
Dias, sempre busquei fazer destes perfeitos. Mas antes de escrever sobre eles deixe eu me apresentar: O meu nome é Cristina de Moraes, pelo que eu me lembro eu tenho quinze anos de idade, eu era a filha mais nova. Agora meu irmão está com vinte e um anos, morro de saudades dele... Ele ainda continua com aquele mesmo jeitão alegre, engraçado, um sorriso lindo, ele odiava quando eu o imitava, ele tem bom coração e é apaixonado pela namorada. Às vezes ouço-o chorando, ele também sente a minha falta.
Eu consigo ouvir as orações dos meus pais. Todos os dias eles vão à Igreja. Oram por mim. Minha mãe chora quando não me sente mais ao lado dela. Meu pai se aquieta quando olha para o lugar que eu sentava – parece que ele ainda me vê ali, quietinha assistindo ao culto com a cabeça apoiada nos ombros da minha mãe. Sinto que o meu pai derrama muitas lágrimas por dentro, mas nestes anos todos tem se mostrado um homem forte e cheio de coragem. Eles sabiam que eu os amava muito.
Você, que está me lendo, me perdoe... Não conseguirei escrever mais sobre a minha família, os meus olhos estão se enchendo de lágrimas e eu não quero chorar, prometi que não iria chorar, nunca mais...
Escrevo sobre os meus dias. Perfeitos... Nunca me preocupei se os meus cabelos estavam arrumados, se o meu rímel estava borrado, enfim, nunca me cobrei. Vivi histórias incríveis, senti emoções que muitas pessoas de cinqüenta anos nunca sentiram. Cada capítulo da minha história tinha uma trilha sonora diferente. Sempre amei música! Sempre a amei também...
Há dias que me imaginava dentro da minha própria solidão e me sentia como se estivesse numa praia, a brisa que batia em meu rosto e aquela água fria que refrescava os meus pés descalços me dava a sensação de estar livre de toda aquela gente horrível e chata que me cercava. Eu queria ter construído um mundo lindo só para viver junto da minha amada. Essa seria a outra forma de viver bem, com ela ao meu lado eu não precisaria viver apenas de solidão. Viveríamos no nosso silêncio. Quando debruçássemos na janela a paisagem lá fora estaria sempre bonita, o sol sempre irradiante. Nada de carros, só ouviríamos o canto dos pássaros e o balançar das árvores. A voz dela sussurrando em meus ouvidos dizendo-me que me ama e que sempre me amará, para mim, seria o suficiente. Mas tudo isso foi apenas um sonho e nada mais.
No meu quarto o tempo parou. Eu não ouvia mais o tic-tac do relógio. Covardemente eu dava naquele momento o último gole de monotonia. Envenenei-me de tristeza, eu já me encontrava muito fraca, mas eu segurava um lenço que tinha impregnado o perfume da minha amada, levei-o até o meu nariz e naquele instante eu não suspirava pela última vez, mas sim, a sentia pela última vez.

Continua... 


2 comentários:

  1. texto inquieto. Fico a pensar: Estará morta sua personagem? Era homossexual? Espero, enfim o desfecho desta trama.Abraços, Fernando Lira

    ResponderExcluir
  2. Nos deixa intrigados em saber a continuação da narrativa. Será que Cristina está morta? Porque seus pais sentem tanto a sua falta?
    Um belo texto Professor!

    ResponderExcluir